28 de agosto de 2008

'No gargalo': O novo castelo do papa

No jargão jornalístico, matéria recomendada (ou reco) é aquela que os chefes, por interesse próprio, mandam os repórteres fazerem. Pois bem, meus caros, a postagem de hoje é "reco" total. Minha amiga e chefa neste blog caiu de amores pelo Châteauneuf-du-pape e, assim como que não quer nada, me mandou a letra: "Claudinha, quer escrever sobre a parada do chateauneuf, não?" Eu, que manjo a figura há milênios, entendi a mensagem.

Bem, Châteauneuf-du-pape é uma cidade do sul da França e também uma denominação de origem controlada. Tudo começou com a chegada dos papas a Avignon durante a Idade Média. E, vocês sabem, naquela época onde tinha padre, tinha vinhedo (sim, devemos isso de bom à Igreja Católica. Os religiosos foram os primeiros grandes vinicultores da história).

Aí, no século XIV, o papa Clemente V plantou várias cepas e começou a produzir o vinho que abasteceria toda região de Châteauneuf. O negócio bombou. A Igreja tornou-se a produtora oficial e escolheu o local para construir sua residência de veraneio. Coisa simples, um castelo. Depois, o lugar ficou conhecido como Châteauneuf-du-pape (que, em bom português, significa 'novo castelo do papa') e, por volta dos anos 20 foi sacramentada como denominação de origem controlada.

Para este vinho, a lei francesa permite a utilização de 13 uvas, mas em geral, predomina a cepa grenache, mesmo nos
"assemblages". De fama mundial, reconhecido por sua garrafa bojuda com o selo das armas papais, este vinho tem força e elegância. Tem potencial de guarda. Alguns podem segurar uns bons dez anos repousando quietinho. Portanto, nada de pressa...

Se deu vontade de comprar, pesquise antes o produtor. Esses vinhos não são baratos, mas nem todos correspondem ao encanto do nome. Santé!

* Foto do rótulo de Monica Ramalho; a outra, saqueada da web *

27 de agosto de 2008

Cartola por Sacramento e Alcofra

O cantor Marcos Sacramento e o violonista Luis Flávio Alcofra, dois queridos meus, apresentam o show 'Amor de Cartola' nesta quinta, às 12h30, no térreo do belíssimo Centro Cultural Light (Avenida Marechal Floriano, 168, Centro). No roteiro, só aquelas maravilhas do criador da Mangueira. A entrada é grátis, com distribuição de senhas uma hora antes do espetáculo.

"A dupla reviverá as despedidas, o abandono, as perdas, enfim, todo o amor deixado por Cartola em forma de música numa homenagem aos 100 anos deste genial compositor", diz a amiga Maria Braga, produtora do show.

* Foto de divulgação *

25 de agosto de 2008

'Verdades a granel' por Moacyr Scliar

"Somos os únicos seres capazes de iluminar nossa culpa. E culpa iluminada é culpa domada. Iluminado, o dedo acusador deixa de ser um algoz para ser simplesmente um dedo, parte do nosso corpo, parte da mão que nos fez humanos".

* Frase de Moacyr Scliar e foto de Three Lions *

24 de agosto de 2008

Previsão para ontem

Todas as coisas são conjuntos de partículas
buscando multidão,
mas de perto são ridículas...

No entanto, as coisas vão se unindo sem noção
de que são o contrasenso
de si mesmas, pois a união

requer desprendimento – e então viver propenso
a vestir o desmando
e sumir no mundo imenso

até que nem se lembre mais de onde ou quando
foi presente, passado
mas nunca o futuro. E estando

agora em tudo que é possível ser pensado,
como quem se motiva
até o sonho é o resultado

da música indelével que, na noite viva,
tão perto e tão distante,
brota assim, feito saliva

e volta a ser partícula, mínimo instante
de fuga, espera e esquiva
e só assim segue adiante.

* Poema do amigo Henrique Rodrigues *

22 de agosto de 2008

A mandioca da Camila Rhodi

Quando a humanidade me interessava mais - e nem faz tanto tempo assim -, eu gostava de apresentar as pessoas mencionando nome, sobrenome, profissão e um detalhe curioso ou certa característica extravagante. E Camila Rhodi era a 'filha da Chacrete'. A menina ficava vermelha, esbravejava, pedia encarecidamente para eu não fazer mais isso. Sem resultados, lógico. 'Essa é Camila Rhodi, atriz, filha da Chacrete', continuei propagando aos quatro ventos (risos).

Outro dia, recebi um email da Camila com este flyer acima, no qual ela assume publicamente que é... 'A filha da Chacrete'! Meu coração disparou! (mais risos). Clique na imagem para saber mais sobre a peça. Imperdível, claro. Vai para o trono ou não vai?

* Foto de Renato Marques *

Hoje é o centenário de Henri Cartier-Bresson

Você pode até desconhecer a obra de Henri Cartier-Bresson (1908-2004). Mais: pode nem saber quem foi esse francês, nascido há exatos cem anos. Porém, se você gosta minimamente de fotografia, já deve muuuito a ele.

Fundador da primeira agência fotográfica do mundo, a célebre Magnum, ao lado de outras feras, como Robert Capa e David Seymour, o francês Cartier-Bresson é apontado como pai do fotojornalismo.

Para ver um punhado de imagens que ele registrou pelo mundo com a sua clássica Leica, sem zoons espetaculares ou recursos mirabolantes, clique
aqui!

* Foto de abertura da Fondation Henri Cartier-Bresson *

21 de agosto de 2008

Todos os desvios, limites e usos da dança

Artista de dança e professora da célebre Escola de Dança Angel Vianna, a carioca Flavia Meireles, 31 anos, aceitou dois convites para realizar projetos na Europa: 'Sem nome, todos os usos', iniciado em Paris com apoio do Centre National de La Danse e da Ménagerrie de Verre/ StudioLabs; e 'As coisas entre as coisas', em parceria com Marcela Levi, num programa de residências da Casa Encendida, em Madrid. Também colabora e faz assistência no trabalho de Gustavo Ciríaco 'Nada. Vamos ver' com estréia prevista para dezembro. A moça, amiga do peito, deu entrevista a este blog por e-mail. Leia a seguir:

LARANJA É A COR DO VESTIDO DELA - Nos 12 anos que acompanho a sua vida de perto, já vi de tudo (risos). Já vi você super feliz, você vendendo carro pra viajar, você ensaiando vinte horas por dia na semana da estréia ou, pelo contrário, passeando na véspera de entregar um projeto importantérrimo. Como está a Flavia Meireles por dentro em agosto de 2008?

FLAVIA MEIRELES - Que bom que você já viu de tudo, sinal de que eu não sou uma pessoa só (risos). Difícil isso de dizer como estou no momento em que estou vivendo, mas... Vamos lá: Estou com a minha energia bastante voltada pros trabalhos que estou fazendo agora e isso me dá um bem-estar enorme. Gosto de estar/viver trabalhando e estou num momento particularmente intenso. Além do projeto solo, tenho um trabalho novo com a Marcela em duo, chamado ‘As coisas entre as coisas’, e estou fazendo assistência e colaboração no trabalho novo do Gustavo Ciríaco. Esse tempo por aqui na Europa tem sido bom pra ver isso e também pra me alimentar a alçar vôos.


LARANJA - Aliás, o seu trabalho atual, 'Sem nome, todos os usos’, tem a ver com coisas que fazem, desfazem e refazem; limites, bordas, dentro e fora. Qual foi o seu ponto de partida e a quantas anda essa experimentação toda?

FLAVIA
- A experimentação continua, pois esse é um trabalho que iniciei aqui em Paris e que não está concluído. Ele está se fazendo e me refazendo. Tenho um material no qual me debruçar e agora é construir. Sinto que tenho um campo a trabalhar, um campo de pesquisa. Ainda não tenho previsão de mostrá-lo como um trabalho acabado, mas tenho mostrado o processo para algumas pessoas e isso enriquece bastante, pois me dá outros pontos de vista. Achei esse título numa marca de alimentos. O que me interessa no nome é a possibilidade de inventar usos, de se colocar em polissemia e tem a ver com o que gosto na linguagem que é dela atuar como motivação do imaginário, de ser aberta, esburacada, parcial e inventiva. Fazendo e se refazendo. A idéia de bordas, limites veio de maneira bem prática, a partir das experimentações na sala de ensaio que sugeriam isso. Além disso, um poema do Joan Brossa me caiu nas mãos, chamado 'Puente':

Este es el camino
Que sirve para pasar
Del poema anterior al siguiente.

Pra mim este poema tem muitas ressonâncias nas quais gostaria de tocar que dizem respeito a limite, instabilidade, caminho/caminhar, coisas que geram coisas, respostas que perguntam.

LARANJA - Nos textos que você mandou, encontrei referências a objetos em cena. Lembro de você pendurada na parede com o Paulo Caldas, mas nunca abraçada a uma cabeça de boi, por exemplo, como faz a Marcela Levi. É influência da Marcela?

FLAVIA - Li recentemente um pesquisador que diz que nosso corpo é formado por todos os lugares onde deixamos impressões digitais, fazemos cocô, beijamos, tivemos relações afetivas e lugares onde deixamos qualquer tipo de marca, mesmo que invisível. Estou dizendo isso porque você me pergunta sobre influências. E é comum pensarmos nelas como algo linear, claramente identificável, onde a gente vai achar o xis da questão, a origem. Mas eu acredito que elas são tão ramificadas como essa leitura do corpo desse pesquisador que falei. É preciso ter alimentos de muitos lugares e a Marcela está aí também. Em relação a objetos tem Marcela, Marina Abramovic, Cildo Meireles, Leonora de Barros e Joan Brossa, de maneiras bastante distintas entre eles. E também está o Paulo, além de coisas que ainda não me dei conta. Então, mais que buscar minhas influências (elas já vão estar lá, não preciso buscá-las), o importante é antropofagizar, tornar algo outro, transformar. Esse é o trabalho...


LARANJA - Ah, e achei outra questão que me encantou: desvio, torção, ambiguidade. Eu adoro desvios! Adoro encontrar um amigo na entrada da padaria e acabar seguindo com ele prum cinema. Gostaria que falasse um pouco sobre isso também, flor.

FLAVIA - Pois é... Isso também me encanta. E é uma coisa dificílima, pois o desvio não dá pra ser planejado, senão não é desvio (ha!). Estava pensando hoje que uma coisa que me interessa criar em cena são proposições claras e ambíguas, quero dizer, coisas que as pessoas percebam, mas não sejam passíveis de afirmar. Os nossos sentidos são assim, sentimos coisas, cheiramos, vemos, degustamos, eles são ao mesmo tempo claros e são uma suspeita de algo, não uma afirmação definitiva. Eles são passíveis de mudar, de se transformar. Por isso trabalho a partir da percepção. Por isso duplo sentido, jogo de palavras, associações indiretas têm muito valor pra mim. É por elas que tocamos a ambiguidade. Gosto de palavras com duplo sentido e de torções como a do Juan Brossa que pegou o símbolo da marca Volkswagen e colocou Volkswagner. Adoro esses lapsos que criam outros sentidos. Adoro também o conceito de indeterminação, do Cage (John, músico, pensador inspirador do movimento Fluxus e companheiro-colaborador de Cunningham) que conversa muito bem com a ambiguidade e que tem a ver com vários sentidos ao mesmo tempo.

LARANJA - O que você gostaria de destacar de Paris e colar no Rio de Janeiro?

FLAVIA - A infra-estrutura que se pode ter pra trabalhar com dança. Ter políticas públicas CONTINUADAS para a cultura. Ter investimentos pra cultura e não achar que cultura é artigo de luxo, supérfluo. Quem disse que cultura não enche barriga? Cultura gera saber, emprego, lazer, agrega pessoas e outras coisas mais. E não tô falando de um ponto de vista marqueteiro, pra tentar fazer a arte ser vendável (pois acredito que certos investimentos em arte não dá o lucro de imediato), mas sim interesseiro, que dialoga, critica e reflete a sociedade em que vivemos.

Ter o mínimo de infra-estrutura significa que os trabalhos podem surgir como um trabalho e não como uma gambiarra ou como aquela piada em que o cara pergunta “você trabalha com o que?” e, se você responde “dança”, ele vai te perguntar de novo “mas o que você faz?”. E a política pras artes tá mudando muito aqui na França, ficando mais neoliberal (flexível e inexistente ao mesmo tempo) mas, pelo menos, ainda tem infra-estrutura e tem possibilidades de novos modelos de produção (porque também tem dinheiro que vai pra esse fim).

Não gostaria, entretanto, de colar um modelo francês, mas sim, de novo, de antropofagizar, como nossos queridos doces bárbaros faziam, misturando ritmos, línguas e sons e achando uma mistura própria. Gostaria que em nossa cidade pudéssemos fazer nossa mistura, que tem gambiarra sim, mas que não se apoia nela.

LARANJA - E por falar nisso, caramba, quando a mocinha volta pra casa?

FLAVIA - Essa é fácil: 29 de agosto, sexta sem ser esta, a outra, às 17h30 no horário daí!

* Fotos de Micheline Torres *

'No gargalo': Levar de casa ou não?

Sempre dou uma olhada nos preços de vinhos nos bares e restaurantes por onde passo. Mania. Mesmo que não queira beber, bisbilhoto. A conclusão, baseada em muitas andanças alcoólicas é que beber vinho em restaurante ainda é, no geral, um programinha caro. Claro que se você é rico, não se espanta, mas para pessoas que ainda não chegaram lá, o cerco aperta.

Bem, mas seguindo... Daí, a gente pensa em levar aquela nossa garrafa para o restaurante e eis que surge a temida taxa de rolha. Mas há restaurantes e bares que permitem que você leve seu vinho sem cobrar nada a mais. Há esperança! Imediatamente eu viro fã de lugares assim.


É de uma simpatia extrema, mas pela lógica, o restaurante não tem nenhuma obrigação de liberar seus clientes a levarem bebidas, pois a casa vai colocar à nossa disposição taças, gelo, balde e, no mínimo, os serviços do garçom e do pessoal da limpeza. Ela vai ter despesas. Então, para não ficar com cara de tacho, caso queira levar sua garrafa, ligue antes para saber das condições. É simples.

Para retribuir tamanha gentileza, não dê uma de 'mala' exigindo taças de cristal ou reclamando do serviço, mesmo que seja atrapalhado. E é bacana oferecer uma taça à pessoa que vai te servir ou, se a situação couber, ao gerente ou dono. Também não vale levar um montão de garrafas, a não ser que você tenha combinado alguma comemoração com amigos.

Outra coisinha: prefira levar a garrafa embalada nem que seja num embrulho de papel pardo. Fica meio estranho chegar com a garrafa na mão toda à mostra. Discrição, discrição. Agora o seguinte, se esse trabalho todo for pra levar aquela garrafa de 'Concha y Toro reservado', aí, meu filho, é pra chorar de raiva. Por que levar um vinho manjado desse que está em 99% das cartas? Não vamos ofender o local...


* Foto de Fabiano Possi *

20 de agosto de 2008

365 dias sobre o mesmo futon


* Flores de Val Becker e foto de Monica Ramalho *

19 de agosto de 2008

Suely Mesquita lança álbum hoje em Copa

Faz tempo que Suely Mesquita prefere ser chamada de compositora e cantora, nesta ordem. O álbum deixa escapar umas pistas do porquê. “Neste segundo disco estou ainda mais exposta como autora, já que a maior parte das melodias é minha”. Muitas delas, feitas em parceria com Zélia Duncan, Pedro Luís, Chico César, Mathilda Kóvak, Zeca Baleiro, Glauco Lourenço e muitos, muitos outros: famosos e desconhecidos, todos afinados com o estilo Suely de musicar a vida.

O show de lançamento carioca será esta noite, às 19h, na Modern Sound, em Copacabana, com entrada grátis. Dividindo o set com Suely, a convidada Zélia Duncan mais a banda de base, formada por três excelentes rapazes: João Gaspar atacando no violão de aço, no cavaquinho, na guitarra, no banjo e no dobro; Cláudio Bezz no baixo e nos violões; e Edu Szajnbrum na percussão. A direção musical é de João Gaspar.

* Foto de Caetano Vidal *

17 de agosto de 2008

Sinta...

Horas antes de saber da morte do grande Dorival Caymmi, me encantei com esse grafite na parede da Drinkeria Maldita, em Botafogo. Fiz o registro no celular da Val, de brincadeira, mas achei que fez todo o sentido quando recebi a triste notícia e lembrei daquela canção praieira, que começa assim: "vamos chamar o vento/ vamos chamar o vento/ (e alguém assovia)"

"Uma incelença entrou no paraíso
Adeus, irmão, adeus,
Até o dia de juízo"

* Versos de Dorival Caymmi *

15 de agosto de 2008

Uma paisagem com harpa, vozes e violoncelo

A harpista Cristina Braga e o violoncelista americano Eugene Friesen lançam o álbum 'Paisagem' hoje e amanhã, às 20h, na Sala Baden Powell, em Copacabana. Em 13 faixas, a dupla revisita obras que, por seus aspectos melódicos e harmônicos, poderiam ter sido compostas por autores eruditos, mas ganharam vida nas mãos de Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Chico Buarque, Edu Lobo e Geraldo Vandré, entre outros.

A dupla será acompanhada por outras três feras: o querido Marquinho Nimrichter no piano e no acordeon, Joca Moraes na bateria de alfaia e Ricardo Medeiros no contrabaixo e na direção musical. Ouvir esse quinteto ao vivo é imperdível, gente!

* Foto de divulgação *

14 de agosto de 2008

'No gargalo': Três personagens do vinho

Sommelier, enólogo e enófilo. Há uma certa confusão entre esses três personagem do mundo do vinho. O que cada um faz? Vamos, resumidamente, às definições:

Sommelier é a pessoa que entende tudo sobre o serviço do vinho. Ele é responsável por elaborar a carta, pela compra e armazenamento do vinho e suas harmonizações. É um profissional altamente treinado – que o diga seu nariz - e pode ser capaz de identificar se o vinho passou ou não por madeira, apenas sentindo seus aromas.


O enólogo é quem faz o vinho. É a pessoa que tem ou deveria ter conhecimento profundo sobre os processos que envolvem a bebida, desde o plantio da uva, sua colheita, produção, envelhecimento e comercialização. O enólogo é quem define também quando o vinho está pronto para ser lançado no mercado. Ele é o artista do vinho.

Enófila é aquela pessoa que aprecia o vinho, tal qual esta que vos fala. É o amante da bebida. Claro que as categorias acima também são de aficionados, mas é que o enófilo não necessita de estudo técnico para apreciá-la, apenas de uma boa dose de curiosidade.

Como diz a frase - que de tão repetida não se sabe o autor: “Enólogo é o sujeito que, perante o vinho, toma decisões. O enófilo é o cara que, diante de decisões, toma vinho”.
E até a próxima semana!

* Foto de Monica Ramalho *

13 de agosto de 2008

Coragem e alegria

Em um dia do homem estão os dias
do tempo, desde o inconcebível
dia inicial do tempo, em que um terrível
Deus prefixou os dias e agonias,
até aquele outro em que o ubíquo rio
do tempo terrenal torne a sua fonte,
que é o Eterno, e se apague no presente,
no futuro, no passado o que agora é meu.
Entre a aurora e a noite está a história
universal. Do fundo da noite vejo
a meus pés os caminhos do hebreu,
Cartago aniquilada, Inferno e Glória.
Dá-me, Senhor, coragem e alegria
para escalar o cume deste dia.


* 'James Joyce', poema do argentino Jorge Luis Borges *

12 de agosto de 2008

Paixões empacotadas

Só faço beber esses fantásticos chás ingleses...


* Foto de Monica Ramalho *

11 de agosto de 2008

Happy em qualquer Hour

Carismática, hipnótica, perspicaz e linda são adjetivos que cabem no figurino de Lorena Calábria, 44 anos, à frente do programa diário Happy Hour, no GNT. Casada com o diretor e roteirista Maurício Arruda e mãe das pequenas Dora e Catarina, a apresentadora carioca, radicada há 17 anos em São Paulo, diz que tira de letra viver na ponte aérea e que trabalha para viajar. “Turista é aquele que se guia pelo roteiro e o viajante é mais livre. Eu sou uma mistura dos dois”.

Leia a entrevista completa, que fiz para a capa da novíssima revista VOETRIP, editada pela turma bacana e paulistana da Spring. O link é: www.voetrip.com.br/revista/02/

* Fotos de Jorge Bispo *

8 de agosto de 2008

'Verdades a granel' por Adriana Calcanhotto

"Tenho por princípios
nunca fechar portas,
mas como mantê-las abertas
o tempo todo
se em certos dias o vento
quer derrubar tudo?"


* Ilustração de Luiza Porto. Veja outras no blog Meu outro eu *

7 de agosto de 2008

'No gargalo': Você ainda vai cruzar com um...

Pode demorar, mas a gente acaba esbarrando com eles. Afinal, estão em todos, eu disse TODOS os eventos que tenha o vinho como motivo. Sim, os apaixonados pela bebida estão nessa leva, mas me refiro aos enochatos. Êta pessoal enjoado! O pior de tudo é que eles não percebem o quanto são inconvenientes.

Sempre com ar arrogante e posando como se conversassem com Baco a qualquer instante, eles têm o dom de tirar o prazer do bebedor ao lado. Não podem ver ninguém elogiando sua taça que, sem piedade, começam a criticar e dizer que já beberam uma safra muito, muito melhor do que aquela que o coitado tá gostando tanto.


À essa altura, se a vítima não tiver espírito para deixar de lado o comentário não solicitado, pode começar a se achar um bobo. E as características que o enochato é capaz de achar num vinho??? Um dia, ouvi um exemplar da espécie dizendo que determinado vinho tinha aroma "de capim limão cortado". Até aí, ainda vai, mas ele extrapolou: era "capim limão do quintal da casa da avó dele no verão". Meu Deus, dai-me paciência!

Outro dia, eu estava numa festa ótima, com vinhozinhos, cervejinhas e caipirinhas rolando de lá pra cá. Não era o ambiente para se beber, digamos, "criticamente" porque o vinho não era a estrela da festa. Mas é claro que o nosso enochato não deixou por menos: Quando o garçom veio servir novamente sua taça, a figura sacou do bolso um termômetro. Sim, um termômetro para ver se a temperatura do vinho estava correta. Todo mundo sem graça, mudo, o garçom sem saber o que fazer com aquele homem colocando o apetrecho na garrafa. Deus do céu, precisa disso? Claro que não! Como já disse, ninguém estava num encontro técnico ou coisa parecida.

Essas abomináveis criaturas só colaboram para que as pessoas se distanciem do vinho, fazendo com que não se sintam capazes de ter prazer com essa bebida maravilhosa. O bom bebedor de vinho, o enófilo de verdade, não se exibe com os caldos que bebeu. É mais ou menos como um cara legal que não vive se mostrando para os amigos por causa das mulheres que namorou. Há de ter elegância...

Caro colega de taça, desconfie sempre do sabichão que não aceita críticas, do pedante que já bebeu de tudo e do dono da verdade que não aceita a sua opinião. Beijos e até a próxima!

* Ilustração do site Seu restaurante e foto de Chris Stein *

6 de agosto de 2008

Carmen Slawinski expõe no Parque das Ruínas

Taí uma exposição imperdível para quem se encanta com uma iluminação bacana como eu. A artista plástica Carmen Slawinski faz essas interferências super bonitas em lugares que a gente passa toda hora, como este velho armazém de Santa Teresa na foto abaixo; a fachada do Centro Cultural Banco do Brasil, no Centro, e o túnel da Rua Alice, em Laranjeiras. O novo trabalho dela transformou o Parque das Ruínas. Quer ver? A mostra 'Contenções' fica em cartaz até 5 de outubro e pode ser visitada de terça a domingo, das 8h às 20h. Grátis.

Com esta exposição, a artista dá continuidade às suas interferências urbanas. "As ruínas tecem o fio da meada da memória quase perdida", diz Carmen. Ao todo, são quatro interferências nas ruínas. "Centenas de delicados fios de lã, esticados em planos, serão banhados por luzes vermelhas. Ao olhar as grandes estruturas formadas, vai ficar no ar a impressão de que a luz emana dos fios em brasa", explica a artista.

Feixes de lã branca definem planos que se cortam. Há fios mudando a arquitetura da casa, outros criando uma coluna que, ao ser acesa, transforma a delicadeza da lã em fios eletrizados. No grande espaço com pé direito de doze metros, fica o ‘Colosso’, que vai do teto ao chão. Todas as peças receberão luz vermelha localizada. Na sala de exposição, são projetadas fotos noturnas das intervenções para quem visitar o espaço durante o dia, além de registros fotográficos dos trabalhos anteriores de Carmen.

Sobre a artista, escreveu a célebre pintora portuguesa Maria Helena Vieira da Silva (1908 - 1992), uma de suas principais incentivadoras: "Se eu tivesse um espaço a construir, para lhe dar vida, instalaria as tempestades de cor de Carmen, os ventos de todas as direções, os sinais estranhos das florestas do norte do país, as quedas d´agua e as noites de lua cheia".

* Fotos de divulgação *

O espírito olímpico por Naila Oliveira

Fomos estagiárias do Jornal do Brasil - e depois, editoras de conteúdo - na mesma época. Chegamos a trabalhar na mesma editoria, embora nossas áreas de interesses fossem bem diferentes. Eu queria escrever sobre música brasileira e às vezes estranhava o fato de ser repórter de economia; ela gostava de acompanhar a Bovespa, o Nasdaq e aqueles índices todos, mas flertava com esportes. Assinamos boas reportagens juntas e, sim, apesar da inexperiência, alguns de meus melhores textos também datam dos anos apaixonados do JB.

Reproduzo aqui a abertura de um texto que a amiga Naila Oliveira (foi ela quem me levou pra Globo.com depois), escreveu nas Olimpíadas de Sydney, a pedido de um editor:

Maratona feminina dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, Estados Unidos, 1984. Ela entrou no Coliseu cambaleante, o corpo curvado e tombado para a esquerda. As pernas tortas pareciam que não iriam suportar o peso daquela atleta de 39 anos. Os braços mexiam lentamente, num compasso desordenado. A expressão no rosto era de dor, sofrimento e ansiedade. A mesma que se verificava nos rostos perplexos de cada um dos cerca de 80 mil espectadores que estavam presentes no estádio. E a suíça Gabrielle Andersen-Schleiss continuava no seu passo lento e sofrido. Apenas os últimos metros a separavam da linha de chegada, depois de percorrer outros 42 mil. Parecia impossível chegar lá. Médicos e auxiliares tentaram tirá-la da pista, mas, num esforço supremo, com todas as forças reunidas, ela repelia os gestos de salvamento. Queria vencer o seu limite. Exausta, desidratada demorou mais de sete minutos para percorrer os últimos passos de seu destino. Sete minutos que pareciam horas para seus compatriotas que ligavam incessantemente para as redes de televisão para pedir que a tirassem da pista. Não podiam, Gaby queria chegar ao final. E conseguiu. A linha de chegada foi a fronteira para o colapso e depois para a História. A estréia da maratona feminina em Olimpíadas não escreveu o nome da campeã - a norte-americana Joan Benoit - nos anais das glórias olímpicas. Lá está registrado o de Gabrielle Andersen-Scheleiss, a 37ª colocada. A imagem do sofrimento e da perseverança da suíça continua sendo transmitida, mesmo depois de 20 anos. Ela demonstra a vontade de vencer os seus limites para representar o seu país. O verdadeiro espírito olímpico, que fica adormecido e acorda de quatro em quatro anos.

Atualmente, a Naila está em Brasília dedicando-se ao Ministério do Trabalho. É gostoso lembrar que nós, Adriana Bittencourt, Sheila Machado, Elisa Travalloni, Clara Leite e outras pessoas queridas éramos as promessas do jornalismo carioca nos tempos de Avenida Brasil. Quanta saudade daqueles sonhos!

Para ler o post na íntegra (faça isso!), vá ao sempre ótimo blog Final de Namoro

* Foto de arquivo *

5 de agosto de 2008

Adoniran é celebrado na semana dos 98 anos

Amanhã faz 98 anos de nascimento do cantor e compositor Adoniran Barbosa, autor das memoráveis "Saudosa maloca" e "Tiro ao álvaro", entre um baú de preciosidades. O sambista era paulistano, mas o aniversário vai ser comemorado por cariocas: O grupo Nóis Num Semos Tatu recorda a obra de Adoniran em mini-temporada desta noite a sábado, 9 de agosto, no Rio Scenarium.

Eu sempre me divirto horrores com essa rapaziada - Robson Camilo e Roberta Garcia nos microfones, mais o violonista Marcelo Pacheco, o cavaquinista Filipe Lage e os percussionistas Juran Ribeiro e Fábio Luiz. O diferencial, que o release não revela, é o set que eles criaram só com músicas bregas: de Agepê a Benito de Paula, uma comédia só!

Sobre o grupo, escreveu Maria Helena Rubinato, filha do homenageado: "Nóis Num Semos Tatu é um grupo carioca com alma brasileira e talento universal. Sou grata a eles pela homenagem que fazem a meu pai. Eles têm ginga, sensibilidade de reinterpretar, sem descaracterizar, as letras que Adoniran criou".

* Foto de divulgação *

4 de agosto de 2008

MPB Player: por uma web mais musical!

Estreou dia desses o blog MPB Player, que está sob os fones e teclados dos amigos Leonardo Lichote e Rodrigo Pinto, no Globo Online. Dei uma 'folheada' breve porque a agenda está gritando de trabalhos aqui, mas quero registrar que tô super feliz com o lançamento desta página com volume. Em três compassos:

1. Essa é uma antiga idéia do Rodrigo e, entusiasmado como ele é, deve estar só sorrisos;
2. O texto do Leo é fabuloso e agora vamos ter mais reportagens dele para saborear;
3. Ganhamos todos um novo canal para se discutir música inteligente com pessoas e de modo idem!

O link vai pros meus favoritos: http://oglobo.globo.com/blogs/mpb/

Visitem! E parabéns, meninos! ;)

1 de agosto de 2008

'Uma risada que só ela tem'

A Farofa me levava ao cinema, em Madureira, quando eu era apenas uma garotinha curiosa. E como nos divertíamos com pipocas, refrigerantes, 'Os Trapalhões', 'Loucademia de Polícia' (todos) e congêneres! Ela também me levou ao primeiro show no Canecão, em meados dos anos 80. Era a 'Blitz' de Evandro Mesquita e Fernanda Abreu. Ah, isso vai ganhar nota de rodapé na minha biografia: a prima é culpada por eu me chamar Monica Cristina Ramalho Cunha. De onde saiu esse maldito 'Cristina', que confere ao nome de qualquer pobre coitado um ar mexicano? Sim, idéia da Fátima Cristina Ramalho Lopes. Há!

Eu tinha dez anos quando fomos na estréia da 'Ópera do Malandro', de Ruy Guerra. Gostei do filme, mas pirei mesmo por ter furado a censura de 14 anos. Isso porque eu já tinha os 1,72 atuais, embora o meu riso frouxo ainda não houvesse aparecido. Sim, fui uma adolescente em crise, revoltada, daquelas que não penteavam os cabelos e rabiscavam jeans, mochila, all star. Hoje acho graça das lembranças. Até porque quem passa umas horas comigo hoje não esquece jamais da minha gargalhada. E o poema que ganhei da prima pelos meus 32 anos capta isso tudo muito bem. Vamos lê-lo?

Nascida na terra de ninguém, que foi feita
para todos ou não!
Lá não ficou, pois seu caminho
já estava traçado junto ao mar.
Amando as ondas que lambem a areia
com prazer e cumplicidade.
Assim é a vida de Monica: Prazer e cumplicidade,
esperando o deleite da noite
e desvendando os dias de sol.
E se chover?!
Putz! É uma droga, pois seu carioquês de DNA
fala mais alto e tudo muda.
Brada por lua, estrelas e compactua com o sol.
Com os anos vem ganhando brilho, esboçando
uma doce naturalidade.
Mas o melhor de Monica vem do fundo de sua alma,
uma risada que só ela tem - ela e talvez 'Irene'.
Essa é Monica: Uma mulher autêntica que fala
o que pensa e não apenas pensa, faz.

* Poema de Farofa e foto das prediletas do álbum de família *