5 de julho de 2008

LiberTango lança álbum mui apaixonante

‘Cierra tus ojos y escucha’ (Delira Música) é o segundo álbum do LiberTango, que há doze anos pesquisa e reinventa a obra do bandoneonista e compositor argentino Astor Piazzolla. Os shows de lançamento do disco estão agendados para os dias 11, 12 e 13 de julho, às 20h, na Sala Baden Powell. O violinista Nicolas Krassik e o baixista André Santos são convidados especiais de toda a mini-temporada em Copacabana. Ambos gravaram o disco, mais o também baixista Bruno Migliari. Além de batizar o grupo, Libertango é o nome de uma das peças mais célebres de Piazzolla, interpretada pelos maiores músicos do mundo.


Formado pela pianista argentina Estela Caldi, pelo saxofonista e flautista Alexandre Caldi, pelo acordeonista e pianista Marcelo Caldi e pelo cantor Marcelo Rodolfo, o grupo começou meio de brincadeira, que foi ficando séria e resultou no álbum de estréia, ‘A música de Astor Piazzolla’ (Delira, 2005). “O primeiro disco foi uma imposição da Estela”, diz o vocalista, às gargalhadas. Para a nova bolacha, eles precisavam de outras canções. “Foi quando resolvemos nos aprofundar na criação dele e fazer um trabalho mais camerístico, valorizando os timbres do quarteto”, explica Marcelo Caldi. “Este segundo possui mais níveis de compreensão, o que faz com que ele seja também mais sofisticado”, pontua Alexandre.

Quatro temas foram preparados para este álbum: “Siempre se Vuelve a Buenos Aires” (com letra de Eladia Blazquez), “Alguien le dice al Tango” (parceria com o escritor Jorge Luis Borges), “La Muerte del Ángel” e “Invierno Porteño”. As outras composições – como “El Gordo Triste” (letra de Horacio Ferrer e música de Astor, feita em homenagem a Anibal Troilo), “Escolaso” e “Jacinto Chiclana” (versos de Borges) – já vinham sendo tocadas nos shows do LiberTango pelo Brasil afora. Outra que já fazia parte do repertório é “Le Grand Tango”, escrita originalmente para violoncelo e piano, e transcrita por Estela para sax barítono, acordeão e piano. No disco, a gravação se estende por onze minutos e assume um caráter erudito. “Embora sejam originais, os arranjos preservam a personalidade musical do Piazzola. Eles têm a cara do grupo, mas sem pretensão de modificar a idéia do autor”, defende o acordeonista.

Para os integrantes do LiberTango, o sangue de Piazzolla era portenho, apesar de ele ter nascido em Mar del Plata. “As melhores coisas cantadas dele têm uma relação muito forte com a cidade. O portenho, quando sofre, é muito diferente do brasileiro. O brasileiro sofre, chora e faz um estardalhaço. O portenho sofre, chora e implode. Essa dor que não quer calar nunca, mas que também não grita nunca”, compara Rodolfo. Sobre as semelhanças entre as duas culturas, ele cita a faixa “Chiquilín de Bachín” (letra de Ferrer) que fala do menino de rua e, por isso, poderia ter sido feita no Rio de Janeiro ou em São Paulo.

A entrevista para fazer este release acaba virando um encontro de apaixonados pelo tango argentino, com direito a taças de vinho de Mendoza, grandes sucessos na vitrola e conversas em torno da vida íntima do compositor. A obviedade da pergunta é perdoada pela riqueza das respostas: ‘Por que gravar Piazzolla?’, quero saber. Para Marcelo Rodolfo, “a linguagem de Piazzolla é moderna e ousada. Antes dele, o tango já fazia sucesso internacionalmente, mas Astor chega com um instrumental forte e arrojado, com espaço para improvisação que é quase inexistente no tango tradicional. A mistura acaba dando uma cara mais universal ao gênero, que soa sempre atual".

Já Estela, radicada no Brasil há 39 anos, se emociona ao afirmar que “tudo o que diz respeito à cultura do meu país me move, e, apesar de nunca ter estado com o grande bandoneonista, tenho primos que eram seus amigos próximos. A música de Piazzolla sempre se sobressai porque é grandiosa”. E Alexandre acrescenta: “Todos nós conseguimos nos ver nesta música de alguma forma. Para mim tem a ver também com a formação erudita dele, a polifonia hiperdesenvolvida. Coloco o Piazzolla na linha de Bach, entre o clássico e o popular”. Neste ‘Cierra tus ojos y escucha’ - faixa-título belíssima! - há música tocada apenas por sax e voz; outra, só por piano a quatro mãos e, ainda, por sexteto. É a reinvenção, de fato, criativa.

* Reprodução da capa *

Nenhum comentário: