Depositou entre os dedos amassados da mãe uma nota enrugada de 50 reais. O dinheiro serviria para trazer mais um pacote de fraldas. Geriátricas. O pai adoecera lentamente - há meses mal se movia sozinho. E nesta morte gradual parecia quitar as dívidas contraídas na Terra, onde viveu forte como um touro por cerca de seis décadas, quebrando empresas por burrice, esmagando cotovelos em balcão de bar, deixando faltar em casa para arcar com o deleite das amantes. Mas a brava mulher com quem este pulha casou-se havia jurado permanecer fiel na saúde e na doença. E cuidava de seu amado, já sem nenhum amor. Estóica. Heróica. Ao repousar a cabeça no travesseiro, mãe e filha se perguntavam todas as noites: 'E se fosse uma de nós?'
* Miniconto de Monica Ramalho *
4 comentários:
tenho tantas coisas a comentar a respeito que não vou comentar nada. não cabe.
:-)
tá, pelo menos um: lindo texto, querida.
beijos.
:-))
Amiga, lindo, forte, verdadeiro. Desejo que esta mulher simplesmente viva a partir de agora. Feliz, livre com a sensação de "dever" cumprido. Beijo nas duas.
cris, mas depois me conta tudo isso que lhe ocorreu ao ler o continho; e naila, uma beijoca pra você.
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