"O que te acontece
quando passas pela rua
e imagens te cortam
como garfos e facas
a boca do estômago?
Quando de dentro
da tua cabine,
hermética, fria e móvel
a realidade soca a tua cara
como uma cusparada certeira
no olho?"
Leia o poema completo no blog Inconsciência plena
(Versos de Val Becker e foto de Monica Ramalho)
Já que ando numa fase totalmente mais-livros-menos-gente, comprei cinco títulos para brigar por um espaço na minha mochila e, em seguida, nas estantes aqui de casa:
1. 'Reparação', considerada a obra-prima de Ian McEwan, de 2001, cujo enredo inspirou o filme 'Desejo e reparação', tão ovacionado quanto o livro;
2. 'Animal tropical', de Pedro Juan Gutiérrez, lançado no Brasil em 2002 e creio que seja dos mais recentes do autor cubano;
3. 'Órfãos do Eldorado', novíssima novela de Milton Hatoum, um dos meus escritores de cabeceira;
4. 'O povo brasileiro', clássico de Darcy Ribeiro de 1995;
5. 'O amor é um cão dos diabos', escrito por Charles Bukowski em 1977, escolhido pela Val e embrulhado de presente para ela, mas é claro que também vou filar.
E você? Já leu algum destes?
(Foto: Reza Estakhrian via Getty Images)
Acostumada com violões, cavaquinhos e bandolins colados no peito, a sambista aqui admite sentir a maior agonia ao ver guitarras e baixos rebeldes na altura dos joelhos. Além disso, não entendo lhufas de inglês, o que torna todas as músicas cantadas nesta língua praticamente instrumentais (risos). Ok, queria começar o post soltando umas faíscas só para não perder o hábito. No fundo, no fundo, estou impressionada comigo desde ontem porque pela primeira vez em 31 anos me emocionei ouvindo o mais puro rock´n´roll inglês.
O que todo mundo está comentando sobre o filme 'Shine a light - The Rolling Stones', dirigido por Martin Scorsese, é que os caras nunca foram flagrados tão de perto. E eu diria que vemos mais do que as marcas do tempo impressas na pele do quarteto. Vemos a alma lúdica e musicalmente generosa de Mick Jagger, Keith Richards, Charlie Watts e Ronnie Wood num show grandioso. Enquanto observava Jagger dançando feito criança e Keith solando em êxtase nas cenas finais pensei que, na real, eles nunca se levaram muito à sério. Fazem música apenas para (se) divertir.
'Shine a light' entra em cartaz em 4 de abril. Esquente os riffs no site oficial do filme!
"É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem sabe ver"
(Frase de Gabriel Garcia Marquez e foto de Monica Ramalho)
Ouvia os quatro primeiros discos da Marisa Monte com fervor semi-religioso até ela lançar 'Memórias, crônicas e declarações de amor', em 2000, e cair no meu conceito. Dois anos adiante e outra bola fora: ela se junta a Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown e assina aquelas canções pra lá de comerciais de 'Tribalistas'. Risquei o nome de Marisa Monte da minha listinha de cantoras favoritas, recusei convites para seus shows e fiz greve auditiva dos ótimos 'MM ao vivo' (1988), 'Mais' (1991), 'Verde, anil, amarelo, azul, cor-de-rosa e carvão' (1994) e 'Barulhinho bom - uma viagem musical' (1996).
Em 2006, Marisa voltou às prateleiras com dois álbuns que deram o que falar - 'Infinito particular' e 'Universo ao meu redor' -, mas eu, de absoluta implicância, creditei os elogios da imprensa à farta verba de marketing. Juntos, os discos saíam por R$ 80. Então, mal humoradíssima, resolvi que nunca ouviria os tais álbuns. Até encontrar, numa super promoção, o de sambas por R$ 9,90. Comprei. E gostei. Val me trouxe esses dias o da capa preta. E gostei muitíssimo. Trocando este post em miúdos: fiz as pazes com a Marisa.
(Foto: do site da Marisa Monte)
Sob a batuta do maestro e violonista pernambucano Caio Cezar, os dez jovens músicos da AcariOcamerata lançam o disco de estréia nesta quarta-feira, 19, às 20h, em concerto gratuito na Sala Cecília Meireles, com convidados: Ana de Oliveira no violino e na rabeca, David Chew no violoncelo, mais Antônio Carrasqueira e David Ganc nas flautas.
Sobre o álbum, o amigo João Pimentel escreveu hoje na ilustre Discolândia, do Segundo Caderno do Globo:
"O resultado é maravilhoso. O grupo de concerto, que se utiliza de instrumentos populares como a viola caipira, o bandolim, o cavaquinho e o baixo acústico, acerta em cheio ao interpretar obras de compositores eruditos que dedicaram a vida a compreender e explicar nossas raízes musicais. E é perfeita a inclusão, ao lado de Carlos Gomes, Villa-Lobos, Guerra-Peixe e Radamés Gnattali, de Jacob do Bandolim e Bach, este com a 'Fuga da suíte nº 2'. Quem melhor explica isso no texto de apresentação do disco é Egberto Gismonti: 'O CD mostra uma profunda percepção e conhecimento das muitas influências que nos construíram e nos sustentam como seres miscigenados'. O repertório é irrepreensível (...)".
Vejo você amanhã em um dos 800 lugares da Cecília Meireles? O endereço é: Largo da Lapa, 47, Lapa, Rio de Janeiro, a melhor cidade da América do Sul.
(Foto: divulgação)
Esticando a onda de trilogias, acabei de fluir pelas imagens de 'Cor de rosa choque', o último filme da coleção 'Biograffiti', dirigida por Roberto de Oliveira e lançada pela Biscoito Fino em maio de 2007, sobre a vida rebelde e a obra original de - e o contrário, já que a ordem dos adjetivos não altera a personalidade da roqueira - Rita Lee. Assisti aos outros dois documentários ('Ovelha negra' e 'Baila comigo') em doses homeopáticas, tentando absorver tudo sempre um pouco mais.
Aos 60 anos, Rita faz caretas, dispara palavrões, conta que adorou o tratamento das sapatas quando esteve no xilindró, em 1976, por porte e uso de drogas, evoca a infância com o pai feio e a mãe lindíssima, recorda como compôs um sucesso ou outro com o marido Roberto de Carvalho, coloca os pingos nos iis sobre o desentendimento com os Mutantes e solta aquelas frases ótimas, ótimas, super a cara dela, como esta aqui, que assino embaixo: "Os homens são bobos; e as mulheres são chaaaatas". Salve, Rita Lee!
Ah, e aguarde observações sobre 'O poderoso chefão', cujo box veio morar na minha prateleira esta tarde.
(Foto: do site da Rita Lee)
"Não há guarda-chuva
contra o tempo,
rio fluindo sob a casa, correnteza
carregando os dias, os cabelos"
(Versos de João Cabral de Melo Neto para foto de Monica Ramalho)
Bailarina mais expressiva da companhia de Antonio Gades (1936-2004), Cristina Hoyos recebe a tarefa de ensinar um pouco de sua graciosidade à novata Carmen, escolhida pelo coreógrafo para desempenhar papel homônimo na ópera mais famosa de todos os tempos: 'Carmen', de Bizet. É quase como alguém pedir a Annie Leibovitz para me tornar uma fotógrafa tão boa quanto ela (risos).
No segundo filme da trilogia de Carlos Saura (iniciada em 1978 com 'Bodas de sangue' e concluída em 1985 com 'O amor bruxo'), Gades aparece mais magro e envelhecido, embora dançando ainda melhor, e, acredito, mais integrado aos recursos cinematográficos de Saura. Realidade e ficção são muito bem dosadas e entremeadas na narrativa de 'Carmen'.
Em determinado momento, o coreógrafo espanhol diz claramente à Cristina que ela é imbatível na dança, mas que precisa de uma jovem no papel. E, mesmo conhecendo o enredo, torcemos contra a estreante - e a favor de Hoyos. Um pouco mais adiante, a cena da tabacaria, na qual a personagem de Cristina tem a jugular cortada por Carmen, não deixa dúvidas: a verdadeira estrela do filme é a grande Cristina Hoyos - ainda em atividade, aos 62 anos.
(Foto: Hoyos por Jorge Sánchez Fontaneda)
Inspirada no filme 'Antes de partir' - tragicomédia by States, cujo ingresso vale pelo elenco principal: Jack Nicholson e Morgan Freeman -, resolvi criar a minha lista de imperdíveis para realizar em vida. Vamos lá:
1. Conhecer Portugal e Maranhão
2. Ler uma biblioteca inteira: a minha!
3. Perder o medo de dirigir
4. Dedicar mais tempo à minha mãe
5. Tocar dez boas músicas no violão
E você, também ficou disposto a enumerar o que ainda lhe falta fazer neste mundo?
(Foto: Tom Grill, disponível no Image Bank)
Comprei o vidrão para gotejar nos cantinhos do apê numa festa e acabei gostando tanto do aroma que agora praticamente substituí os perfumes caros pela lavanda de alfazema que minha avó Edméa Leão Ramalho usava. Fico com aquele cheirinho de antigamente e... não sei não... mas acho que tenho recebido mais sorrisos gentis na rua. Será por causa da alfazema?
(Foto: do site Aroma em Cores)
Micheline Torres e Dani Lima formam uma das quatro duplas de coreógrafos e bailarinos que se apresentam a partir desta noite, na segunda e última semana da sétima edição da série 'Solos de Dança', realizada no Espaço Sesc, em Copacabana. A inspiração inicial de 'Ela e mais alguma coisa' veio dos calendários de pin-ups. No percurso, no entanto, elas especularam sobre imagens do feminino. "E nos encontramos em algum lugar entre elas, nós e talvez todo mundo", dizem, no texto de divulgação.
Micheline se recupera de uma ruptura de ligamentos do pé e quem dança é Dani Lima. O espetáculo tem iluminação de Paulo César Medeiros, vencedor do Prêmio Shell deste ano, e trilha sonora de Lucas Marcier, considerado o 'trilheiro do momento' pela Revista do Globo.
Anote na agenda:
De quinta a sábado, às 21h, e domingos, às 19h30. Ingressos a R$ 16, com meia entrada para estudantes e maiores de 65 anos). O endereço do Espaço Sesc é Rua Domingos Ferreira, 160, em Copacabana. Informações : (21) 2547.0156.
(Foto: Dani Lima por Bruno Veiga)
A cavaquinista e compositora Luciana Rabello, minha amiga, é a vencedora do Prêmio Shell na categoria 'direção musical' pelo belíssimo espetáculo 'Besouro, Cordão de Ouro'.
Escrita pelo genial Paulo César Pinheiro, que também faturou o prêmio na categoria 'música', e dirigida por João das Neves, a peça conta a história do capoeirista baiano conhecido como Besouro-Mangangá, presente na obra do poeta desde 1966, quando ele compôs a antológica 'Lapinha'.
(Fotos: Luciana por Silvana Marques; a segunda é de divulgação)
Na solidão do futebol no Centro
Na multidão do bonde de Santa Teresa
No esplendor da Praça Tiradentes
(Fotos: Monica Ramalho)
"Meu objetivo é reunir nesta festa de abertura grandes artistas que eu tive a sorte e a felicidade de entrar em contato nesta temporada no Brasil", conta o francês Cyril Hernandez, que desenvolve uma pesquisa no país há cerca de cinco meses através de uma bolsa concedida pelo governo da França. Os artistas a quem se refere são os percussionistas Marcos Suzano e Siri, o ator e músico Dany Roland, o baterista Júlio Braga e o violonista Hérmanes Abreu.
Todos participam da inauguração da mostra 'Passarelas de ImaginaSom' neste sábado, dia 8, a partir das 17h, no agradabilíssimo-íssimo Parque das Ruínas, em Santa Teresa. Entre as peças que você vai encontrar está o Calderofone de Pratos, na qual nove pratos de bateria ficam suspensos no ar como se fossem planetas. O mais legal é que cada visitante é convidado a soltar a imaginação, tocando os pratos com baquetas de bambu.
No Calderofone de Alto-falantes, outra instalação sonora e interativa, cada móbile suspenso no ar propaga fragmentos de músicas de artistas de várias nacionalidades, entrevistas e paisagens sonoras. Para Hernandez, esta obra fará o público "ouvir o som do mundo". A proposta desta exposição segue a linha artística de Cyril Hernandez, que sempre traz um questionamento do espaço e do corpo.
O endereço do Parque das Ruínas é Rua Murtinho Nobre, 169, em Santa Teresa. Funciona de terça a domingo, das 8h às 20h. Informações pelo telefone: (21) 2252-1039.
No carnaval 2007, recebi um e-mail convocando os foliões ao Bloco de Congas, que se apresentaria em Santa Teresa. Levei a câmera digital novinha em folha e entreguei minha alma aos ritmos cubanos que a garotada tocava. Este ano choveu o carnaval inteiro e eu, que sou de açúcar, preferi ficar em casa vendo filmes debaixo do edredon. Bem, contei tudo isso para avisar que estão abertas as inscrições para as oficinas de percussão cubana com José Izquierdo e de danças afro-cubanas e latino-americanas com Beatriz Gonzales, os criadores deste bloco fantástico.
Animou? Veja se os horários são bons para você:
PERCUSSÃO - sextas, das 18h às 20h30.
DANÇA - segundas, das 18h30 às 19h30 e sextas, das 19h30 às 20h30.
As oficinas são realizadas na Fundição Progresso, com mensalidade de R$ 50 para cada. Informações: (21) 3970.3265 e 8712.0545
Em apenas duas noites engoli a seco as 223 páginas do romance 'O Rei de Havana' (Cia das Letras, 2006), escrito por Pedro Juan Gutiérrez. Nos parágrafos iniciais vi um garoto de 13 anos observar, sem reação, a morte da mãe, do irmão e da avó centenária. E tudo o que acontece depois disso é muito, muito mais trágico. Diante de tanta miséria, toda a minha obsessão por limpeza foi posta de lado para que eu caminhasse pelo submundo de Havana ao lado de Reynaldo, o sobrevivente, viciado em sujeira, rum e sexo animal. Leitura recomendada - para quem tem algum encanto por Cuba e estômago, claro.
(Foto: Havana por Matt Nighswander)
Não é água que chora,
é água que ri,
bem-te-vi
girassol,
emaranhado
e debaixo a cor,
o sabor
é manga
pra sede
minha fruta doce
com mel e granola
minha gra
viola!
de si a sol.
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