27 de fevereiro de 2008

A Cuba de Che sem Fidel



O especial 'Cuba sem Fidel', publicado na Carta Capital desta semana, é um prato cheio para quem tem fome de história e se solidariza com a árdua luta do povo cubano. O líder renunciou por problemas de saúde, após 19 meses de afastamento da cena política - e 49 anos e três dias oficialmente no poder. Uma das análises mais interessantes está na entrevista de três páginas com o historiador brasileiro José Jobson Arruda. Perguntado se o socialismo ainda terá fôlego sem a presença física de Fidel, Arruda respondeu:

"O regime subsistirá sem Fidel, mas não por muito tempo. Enquanto tiver vida, ele continuará a ser o gestor de sua própria substituição no comando, uma forma de transição inteligentemente pensada, para evitar que o processo aconteça de forma precipitada. Garantir a transição pacífica é garantir a própria preservação, se não no comando direto, ao menos nas coxias do poder. Se não de forma presencial, de viva-voz, ao menos por meio de seus textos escritos que, bem sabemos, poderão ser prolongados indefinidamente, mesmo que ele não possa escrevê-los. Alguém o fará por ele, se isso interessar à cúpula do poder".

Quer ler mais? Ou passe aqui em casa :)) ou compre com seu jornaleiro porque a revista ainda está nas bancas.

23 de fevereiro de 2008

Bodas de Gades



Inspirado no livro homônimo do poeta e dramaturgo Federico Garcia Lorca (1898-1936), 'Bodas de sangue', de 1978, chegou às telas em 1981 pelas lentes de Carlos Saura. O filme é um absurdo de lindo, com Antonio Gades (1936-2004) no papel principal, dançando muito, muito, muito. Na verdade, o coreógrafo e o diretor se entenderam tão bem que Saura apostou as fichas em outros dois balés da companhia de Gades - 'Carmem', de Georges Bizet (1838-1875), e 'Amor bruxo', de Manuel de Falla (1876-1946) - e fez uma trilogia imperdível para quem ama cinema e dança.

Tudo de Saura me encanta há tempos, mas hoje fiquei boquiaberta com a arte de Gades. Ele modernizou a dança espanhola de tal maneira que penso em Gades como uma espécie de Pixinguinha do flamenco. Busquei na web uma frase muito interessante dele. Taí:

"Para mim, o flamenco é uma religião. Consegui catalisar, pesquisar e estudar várias tendências do flamenco que existiam na época, mas acho que o mais importante foi o resgate de várias danças do folclore espanhol. Meu maior mérito foi dar unidade a todo esse tesouro vindo de várias regiões. Tudo o que fiz veio de muito estudo, muita pesquisa e muito sofrimento criativo".

Olé!

(Crayon: Antonio Gades por Miguel Alcalas)

22 de fevereiro de 2008

(Metida a) fotógrafa desde 1985



Entre dias de trabalho árduo, separei uma tarde para visitar meus pais e encontrei - num armário abarrotado de ótimas lembranças - as primeiras fotografias que fiz na vida. O ano era 1985 e eu cursava a terceira série. Ganhei uma câmera tipo xereta e a estréia foi em grande estilo: no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Como eu morava no subúrbio, pode-se dizer que a excursão do colégio pareceu uma longa viagem. Taí o registro (trêmulo rs) que mais gosto daquele álbum: as famosas palmeiras imperiais.

20 de fevereiro de 2008

Paixão par avion



Um dos livros mais delicados que existem no mundo chama-se 'Cartas perto do coração' (Record, 2001) e nada mais é do que a reunião de missivas trocadas pelos (então jovens) escritores Fernando Sabino e Clarice Lispector entre os anos 40 e 60. Eram carinhos à distância, com a caligrafia lambuzada de sentimentos e, imagino, o cheiro daquela época. Uma gota do perfume de Clarice. Uma flor desenhada na lateral da página por Fernando. Os dois viveram uma paixão de cinema. Eram casados - ele com Helena; ela com Maury - num tempo em que traição era palavra amaldiçoada.

Caí na asneira de emprestar a minha edição há anos e a pessoa não devolveu, mas, por sorte, achei outro dia um exemplar avulso nas prateleiras da Argumento. Reproduzo aqui um trechinho - apaixonado - saído da esferográfica de Fernando:

"Clarice Lispector é uma coisa riscadinha sozinha num canto, esperando, esperando. Clarice Lispector só toma café com leite. Clarice Lispector saiu correndo no vento na chuva, molhou o vestido, perdeu o chapéu. Clarice Lispector sabe rir e chorar ao mesmo tempo, vocês já viram? Clarice Lispector é engraçada! Ela parece uma árvore. Todas as vezes que ela atravessa a rua bate uma ventania, um automóvel vem, passa por cima dela e ela morre. Me escreva uma carta de 7 páginas, Clarice".

(Reprodução da capa, assinada por Dounê Spínola)

17 de fevereiro de 2008

A estréia solo de Alexandre Caldi



Após imprimir seus sopros em um punhado de álbuns coletivos – como Garrafieira, Sincronia Carioca e LiberTango -, o saxofonista e flautista Alexandre Caldi lança 'Festeiro', o primeiro solo, com repertório quase todo autoral. Há semanas ouço todos os dias, religiosamente, quatro faixas: 'Quase portenho', 'Salsamba', 'Galope' e 'Santa Teresa'. Alex regravou três clássicos, só que com arranjos inovadores: ‘Canto de Xangô’ (Baden Powell e Vinicius de Moraes), ‘Deixa a menina’ (Chico Buarque) e ‘Receita de samba’ (Jacob do Bandolim). Ah, claro, estou contando tudo isso para chamar você: vai ter show nesta quarta, dia 20, às 21h, no Centro Cultural Carioca – Rua do Teatro, 37, Centro, com ingressos a R$ 20.

"Poucas vezes subi num palco com meu nome em destaque no letreiro. Isso vai mudar daqui pra frente", diverte-se o músico, que estreará acompanhado por Nando Duarte no violão e na guitarra, Marcelo Caldi no acordeon e no teclado, Rodrigo Villa no baixo, Fábio Luna na percussão e Carlos César Motta na bateria. O show terá as participações especiais do violinista Nicolas Krassik e do saxofonista Mauro Senise.


(Foto: Clarice Grivichich)

16 de fevereiro de 2008

Samba no jornal e na ladeira



O cantor e compositor Wilson Moreira, popularmente conhecido como Alicate, promete revirar seu baú de maravilhas na festa de lançamento da segunda edição do jornal 'O samba é meu dom' na próxima terça, 19, às 20h, no Bar da Ladeira - Rua Evaristo da Veiga, 149, Centro do Rio. O jornal é distribuído gratuitamente, mas parece que a festa é só para convidados.

Escrito pelos amigos Bruno Villas-Bôas, Emiliano Mello, Thales Ramos e Thiago Dias, também criadores do site O Samba.Net, o jornal traz uma matéria exclusiva com Almir Guineto. Outra entrevista importante é com Glória Bomfim. Descoberta pelo casal Paulo Cesar Pinheiro e Luciana Rabello, a cantora baiana estréia em disco, aos 50 anos, com 'Santo e Orixá', no qual solta o vozeirão ancestral em inéditas de Pinheiro.

15 de fevereiro de 2008

Domingo tem Biglione de graça em Ipanema



Victor Biglione está contando os minutos para chegar domingo. O guitarrista, arranjador, violonista e compositor argentino vai receber uma tripla homenagem na Toca do Vinicius: pelos 50 anos de vida, 30 de carreira e também por ser o instrumentista estrangeiro que mais contribuiu em gravações e shows com a música do país onde mora desde os seis anos. O famoso número 129 da Rua Vinicius de Moraes será palco de um concerto grátis ao ar livre com direito até a um piano de cauda. Biglione tocará com alguns parceiros, entre eles Marcos Valle, Carlos Malta e Marcel Powell.

Ele já conquistou importantes prêmios com trilhas inéditas para o cinema (destaque para dois Kikitos: ‘qualidade artística’ por ‘Operação Condor’, de Roberto Mader, em 2007; e ‘melhor trilha sonora’ por ‘Como nascem os anjos’, de Murilo Salles, em 1996) e gravou com gente de todas as tribos (como Wagner Tiso, Zé Renato e Cássia Eller, com quem tem um registro ainda inédito) e internacional (fez dois álbuns com Andy Summers, guitarrista do The Police).

(Foto: Daniel Ramalho)

14 de fevereiro de 2008

Clara Becker canta Gonzagão e Gonzaguinha



'Dois maior de grande' é o nome do show que a cantora Clara Becker traz à Sala Baden Powell - Av. Nossa Senhora de Copacabana, 360, com ingressos a R$ 20 - de sexta, 15, a domingo, 17. Neste espetáculo, criado a partir de disco homônimo, Clara homenageia dois expoentes do cancioneiro nacional: Luiz Gonzaga (1912-1989) e Gonzaguinha (1945-1991).

"Há uma afinidade fabulosa na música dos Gonzaga e eu vibrei com a possibilidade de unir um compositor do nordeste com um carioca, que, na verdade, faz parte da minha adolescência. Os dois beberam da mesma fonte, a mais brasileira que existe. No fundo, o que eu queria era isso: fazer um trabalho bem nacional", me disse Clara em entrevista ao lançar o elogiado disco, em 2006.

(Foto: Monica Ramalho)

13 de fevereiro de 2008

Adeus a Henri Salvador



A música popular brasileira perde um amigo valioso: o cantor e compositor francês Henri Salvador. Henri ficou conhecido por estas bandas pela canção 'Dans mon íle', que surpreendeu Tom Jobim em 1957, quando o maestro soberano compôs 'Eu não existo sem você'. No ano seguinte, Jobim arremessou três obras-primas da safra inicial da bossa nova - 'Canção do amor demais', 'Desafinado' e 'Chega de saudade'.

Nascido na Guiana Francesa há 90 anos, o músico foi vítima da ruptura de um aneurisma cerebral e nos deixou esta manhã. Este post foi escrito ao som do magnífico 'Chambre avec vue'.

Assista ao vídeo da última visita de Henri ao Rio no YouTube!

12 de fevereiro de 2008

O encontro de duas percussões endiabradas



Os percussionistas Joca Perpignan (carioca, apesar do sobrenome francês) e Scott Feiner (inegavelmente gringo!) dividem os holofotes nesta quinta, 14, às 21h, no Mistura Fina - Av. Rainha Elizabeth, 769, em Ipanema. Taí uma ótima oportunidade de desbravar os batuques dos músicos - de Joca ouço com regularidade o primeiro disco solo, 'Entreventos', lançado há cerca de um ano; de Scott conheço a habilidade para fabricar sites e estou curiosa para ouvir o repertório do álbum 'Pandeiro jazz'.

A entrada custa R$ 30, mas quem enviar um e-mail para a lista amiga (maysamoreno@yahoo.com) paga a metade, o equivalente a quatro ou cinco chopes...

11 de fevereiro de 2008

Os sons de Marcelo Caldi inauguram a semana



Um punhado de amigos tocará nos palcos cariocas nos próximos dias. Todos, inclusive, conheci através da música. Portanto, nada mais natural do que instituir a semana de posts sonoros aqui neste blog, certo? Vamos lá:

Marcelo Caldi faz a alegria da galera nesta terça-feira, dia 12, às 21h, no Centro Cultural Carioca, que fica na Rua do Teatro, 37, Centro, com ingressos a R$ 20. No roteiro, faixas do álbum 'Nesse tempo', o primeiro solo do acordeonista e pianista, titular das bandas da cantora Elza Soares e do saxofonista Leo Gandelman. Aliás, o currículo e a música deste rapaz são impressionantes.

Ouve só: www.myspace.com/marcelocaldi

10 de fevereiro de 2008

Redondo



Frase ouvida nos arredores da roda-gigante do Forte de Copacabana, que pertence à Skol, e publicada na Revista, do Globo, deste domingo:

"R$ 30 pra dar três voltas na roda-gigante da cervejaria? Com R$ 30, eu compro uma caixa de cerveja e vejo tudo rodando por muito mais tempo!".

(Foto de Leandro Meireles Pinto, do site Sampaist)

Da série 'livros de toda a vida'



Trouxe para casa emprestada aquela edição azul, clássica, do livro ‘Fernão Capelo Gaivota’, de Richard Bach. É da única prateleira de livros da casa da Tia Leci, a mesma que visitei com curiosidade na adolescência – lembro de um boneco do Snoopy originalíssimo, de 1958, que enfeitava o móvel. E como até hoje identifico fácil meus momentos de gaivota que passa dias inteiros cometendo seus vôos rasantes à despeito da espécie, aqui vai para você o trecho de abertura desta bela história:

“Era de manhã e o novo sol cintilava nas rugas de um mar calmo.

A dois quilômetros da costa, um barco de pesca acariciava a água. Subitamente, os gritos do Bando da Alimentação relampejaram no ar e despertaram um bando de mil gaivotas, que se lançou precipitadamente na luta pelos pedacinhos de comida. Amanhecia um novo dia de trabalho.

Mas lá ao fundo, sozinho, longe do barco e da costa, Fernão Capelo Gaivota treinava”.

9 de fevereiro de 2008

Fotografe o seu cinema



A Revista Moviola criou uma óóótima campanha: 'Fotografe o seu cinema antes que ele vire uma igreja'. Apesar de não haver qualquer espécie de premiação aos melhores cliques, a redação do periódico online recebeu - e publicou - mais de vinte fotos. Enviei esta que ilustra o post, do Cine Anache, de Corumbá, uma prosaica cidadezinha no pantanal matogrossense que... não tem cinema há mais de dez anos!

Vejam o álbum fotográfico completo
aqui!

8 de fevereiro de 2008

Por que as novas marchinhas não emplacam?



Bacaníssimo o passeio que a jornalista Helena Aragão faz pelas marchinhas de carnaval de todos os tempos. Diz ela: "Você coloca sua roupa de pirata e vai para a rua. Encontra hordas de colombinas, diabos, freiras, palhaços e homens vestidos de mulher. Aí, atravessa o deserto do Saara, consola a jardineira, dá uma zoada na cabeleira do Zezé, fala mal da Aurora (essa fingida!) e celebra a mulata bossa nova, que caiu... no hully gully!? Peraí, esta cena é do carnaval de 2008 ou dos anos 70 (ou 60)? Pode ser de todos. Os blocos do carnaval de rua do Rio de Janeiro estão em lua de mel com a cidade. Crescem em tamanho e quantidade, atraem foliões cada vez mais animados e criativos em suas fantasias. Mas as marchinhas... continuam as mesmas. Claro que, para quem gosta (como eu!), são ótimas, geram uma catarse coletiva de vozes e gritos. Mas quando chega a terça-feira de carnaval, não sei vocês, mas já quero que o Zezé fique careca e que a Aurora se exploda. Será possível que o povo não tem outras marchinhas para cantar?"

Será? Leia, na íntegra, no Overmundo
!

6 de fevereiro de 2008

Madureira em festa



Durante a minha infância suburbana, Madureira foi sinônimo de compras em lojinhas de beira de rua e cineminhas poeira, daqueles bem desconfortáveis. Desconfortável mesmo era o calor das ruas lotadas, sobretudo nas vésperas de natal e ano novo. Mas era o nosso shopping center, meu e da minha mãe, que me ensinou a amar o azul-e-branco da sua escola do coração. E foi em Madureira onde, em 1985 (e, portanto, aos 13 anos), assisti ao primeiro filme para maiores de 16: 'Ópera do malandro', do Ruy Guerra. Portela desfilou sob os ecos de 'é campeã' berrados no carnaval anterior, quando mostrou na passarela do samba as maravilhas dos 'Contos de areia' .

Há alguns anos não piso no bairro. Por falta de razões mesmo. A minha vida começou a ser transferida para a zona sul em 1995, quando entrei para a faculdade. Naquele ano, a Portela abocanhou o vice-campeonato com o enredo 'Gosto que me enrosco'. Três carnavais depois, ficou em 4º lugar com o enredo 'Os olhos da noite'. E, desde então, amargou uma década de más colocações que não rimavam com seus 21 títulos conquistados, o maior de todas as escolas de samba até hoje.

Quem leu este post até aqui e não sabe quem venceu o carnaval deste ano, pode até pensar que foi a escola de João Nogueira, Monarco, Paulinho da Viola e outros bambas, mas não. Ainda não. Quem sabe em 2009?


Leia também: Portela é considerada a melhor do carnaval pelos leitores do Globo Online


(Foto da saia da baiana: Monica Ramalho)

4 de fevereiro de 2008

Puede matar



Um casal brasileiro que mora em Barcelona veio passar os dias de Carnaval aqui entre amigos, abastecido de tabaco. Meus olhinhos brilharam quando vi a moça sacar este maço, com os interessantes dizeres 'Fumar puede matar' competindo com a própria logomarca do Lucky Strike (adoro este design!). Junto com as garrafas de cervejas que matamos juntos, ela deu conta direitinho de todo o conteúdo do box, que, finda a noite, ganhei de presente.

Dizia a Mariana: 'O cara pode fumar a vida inteira e morrer caindo de uma alegoria na Sapucaí. Morre-se de tantas causas, não é verdade?'. É verdade.

1 de fevereiro de 2008

A múltipla 'coisa só' de Quito Ribeiro



Estava curiosa para ouvir a música de Quito Ribeiro - já conhecia uma ou duas canções na voz de Jussara Silveira - desde o lançamento de 'Uma coisa só' (Estúdio 304), por volta de agosto último. Bem, ontem de manhã abri o jornal e vi uma chamada para o show que o cantor e compositor baiano faria à noite no Oi Futuro, encerrando a 15ª edição do festival Humaitá Pra Peixe. Oba!

Uma sala com almofadões vermelhos me recebeu para ouvir a criação de Quito - que vai muito além da sonoridade ancestral das ladeiras de Salvador e do caldeirão musical do Rio de Janeiro, onde mora há mais de uma década, abocanhando também um pouco do Recife de Chico Science e da Cuba dos Buena Vista.

Gostei muitíssimo das composições, como Artificial e Santinha e da banda, estelar - atenção redobrada para o baixista Pedro Sá e para o baterista Marcelo Callado. Quito desafinou um pouco, mas valeu pelo conjunto da obra.

Ouça: http://www.myspace.com/quitoribeiro